Museu Virtual do Vale do Mucuri

Estrada de Ferro Bahia e Minas

Considerada a mais extensa ferrovia isolada do Brasil, o traçado original da Bahia e Minas se estendia por 581,84 quilômetros, sendo a linha tronco com 577,80 km, entre as estações terminais do distrito de Ponta de Areia, em Caravelas/BA, até Araçuaí/MG, no Médio Jequitinhonha, ponto final da ferrovia. A EFBM possuía também um pequeno ramal entre a área urbana de Caravelas e a Estação Central de Ponta de Areia, com extensão de apenas 4,04 km entregue ao tráfego em 1920. A via foi criada a partir de um decreto do governo imperial em 1880 e já no ano seguinte tem assentados os primeiros trilhos. As potencialidades naturais do Vale do Mucuri, especialmente a vasta disponibilidade de espécies arbóreas com potencial madeireiro, conjugada à necessidade de construção de um modal de transporte mais eficiente para o escoamento da produção cafeeira dos grandes proprietários rurais, foram os principais elementos que justificaram a sua construção. A ferrovia foi uma das primeiras a ser construída em Minas Gerais, tinha bitola métrica e via simples, como a maioria das estradas de ferro do Brasil àquela época. Entre Ponta de Areia e Araçuaí existiam 39 estações, pontos de parada e outros diversos atributos materiais, móveis e imóveis, constituídos por locomotivas, vagões, pontilhões, túneis, caixas d’água, oficinas e demais edificações que tiveram importante função logística para a hinterlândia da ferrovia.
À medida que se interiorizava e com o incremento populacional, a ferrovia contribuiu para a formação de nucleações urbanas e direcionou a migração para poucos municípios da região, a exemplo de Theophilo Ottoni, que no recenseamento de 1920 era o mais populoso do Estado e o oitavo do Brasil, com 163.199 habitantes (Brasil, 1926a). Outras localidades também surgiram à beira da linha e se emanciparam posteriormente a partir dos dois principais municípios da porção mineira da ferrovia, Theophilo Ottoni e Arassuay. Àquela época, o vasto município de Theophilo Ottoni abrangia territórios desde os interflúvios entre o Mucuri e o Jequitinhonha até o talvegue do rio Doce, nas proximidades do atual município de Resplendor. São exemplos de estações inauguradas em localidades que décadas mais tarde viriam a se constituir municípios desmembrados do território de Theophilo Ottoni: a Estação de Presidente Getúlio no ano de 1892 (na atual cidade de Carlos Chagas); a Estação de Arthur Castilho em 1893 (atual cidade de Serra dos Aimorés); a Estação de Presidente Bueno no ano de 1918 (atual cidade de Nanuque); Estações de Valão e Sucanga no ano de 1918 (no atual município de Poté) e a Estação de Ladainha no ano de 1918 (na atual cidade de Ladainha). Já a Estação de São Bento inaugurada em 1924 na atual cidade de Novo Cruzeiro desmembrou-se do município de Araçuaí.
Ao longo do trajeto da Bahia e Minas, três localidades desempenharam um papel essencial para o funcionamento da companhia. O distrito de Ponta de Areia, em Caravelas, que abrigou uma imponente estação ferroviária, armazéns, serrarias e uma pequena oficina para a montagem e manutenção dos primeiros materiais rodantes e de tração. A cidade de Teófilo Otoni, por sua posição estratégica no traçado da ferrovia e por seu porte demográfico, tornou-se a sede da companhia, abrigou os escritórios administrativos e possuía a mais movimentada estação de passageiros de todo o trecho servido pela Bahia e Minas. Por fim, a cidade de Ladainha, que abrigou os armazéns da cooperativa de consumo, o centro esportivo e recreativo, uma usina hidrelétrica, a Oficina Central de montagem e manutenção das locomotivas, o almoxarifado, a antiga Escola Técnica Profissional Ferroviária e diversas edificações destinadas aos ferroviários e que teve o seu desenvolvimento urbano e social conjugado à chegada e à retirada dos trilhos da Bahia e Minas. Por isso, nesta seção dedicaremos um pouco mais a compreender o papel da ferrovia na formação do município de Ladainha.