Exposição Albert Schirmer
Albert Schirmer nasceu em 1835 em Potsdam, cidade do leste da Alemanha. Veio para o Brasil em 1856, onde morou em diversas regiões de Minas Gerais, fixando-se definitivamente em Teófilo Otoni em 1880. Viveu nessa cidade até seu falecimento, em 1924. Provavelmente não é o primeiro artista representante do Vale do Mucuri do século XIX, , mas, é o único que se tem registro até então. Foi músico, escritor e professor, contudo, sua obra mais expressiva está na pintura. Schirmer, munido de forte influência do romantismo alemão do início do século XIX, pintava as paisagens valorizando a natureza e o encanto pela vegetação local. Em suas obras, ao retratar fazendas e povoados, destacava as densas matas, subjugando o ser humano à imensidão da natureza. Suas telas eram de dimensões reduzidas, com medidas médias de 20 por 30 cm.
Parte do acervo pictórico produzido por Schirmer está desaparecido e tal constatação se deu a partir de um dos seus escritos, em que faz referência a um quadro da cidade de Diamantina, que não se sabe do seu paradeiro. Outra obra, a pintura da atual cidade de Teófilo Otoni, datada de 1860, desapareceu da Prefeitura Municipal há décadas.
As sete obras a seguir, pintadas por Albert Schirmer, foram analisadas formalmente pelo professor de Arte, Augusto Pinho, como base estética o romantismo alemão.
Obras
SCHIRMER, Albert: Fazenda em Leopoldina, sem data. Acervo Particular
A tela acima traz a imagem da fazenda como elemento principal da obra, pois está localizada em um ponto de destaque. Tal posição remete-a a um lugar imponente, sinalizando que todo o seu entorno gira em função da referida edificação. Outras construções, de menor proporção, foram também edificadas, o que sinaliza o quão estruturada a propriedade era. A tela concentra uma aura de paz, tranquilidade e isolamento. As figuras humanas apresentadas na obra narram o cotidiano simples, típico de uma propriedade rural do século XIX. O referido artista também utiliza na tela técnicas de perspectivas localizadas na disposição da sede e na sequência de estradas que vão se desintegrando na medida em que converge com a propriedade principal. No tocante à pintura, foram utilizados tons pastéis, foscos e terrosos, provavelmente para evidenciar e reforçar o sentimento de pertencimento e poder que tal propriedade possuía. Os pontos brancos, em contraste com os demais tons, evidenciam o cultivo de algodão, produção largamente explorada na Zona da Mata mineira do século XIX.
SCHIRMER, Albert: Fazenda Itamunhec, sem data. Acervo Particular
A pintura acima é de uma fazenda em Itamunhec, localizada no Vale do Mucuri. Tal propriedade tinha, no século XIX, a produção de café como principal cultura e mão-de-obra escrava. Nesta obra, Schirmer mantém os tons pastéis terrosos, mas evidencia a exuberância da mata nativa do nordeste de Minas Gerais como ponto predominante.
SCHIRMER, Albert: Casa da família Ottoni. Serro, sem data. Acervo Particular
A tela acima, pintada em preto e branco, tem como tema a casa dos Ottoni, na cidade do Serro, localizada no Alto Jequitinhonha, Minas Gerais. Na imagem, Schirmer evidencia a geografia da região e a disposição do relevo em relação à Igreja do Bom Jesus de Matozinhos e as demais edificações. A sombra do cruzeiro projetada na igreja revela a posição da luz solar que ilumina toda a superfície da tela. As representações de trilhas, desenhadas no conjunto de montanhas ao fundo, também contribuem para gerar dinamismo ao quadro.
SCHIRMER, Albert. Casa da Família Ottoni. Serro. Minas. 1873 Reprodução do site do Museu Regional Casa dos Ottoni/Acervo IPHAN
A tela apresenta extrema semelhança com a pintura em preto e branco, tendo igualmente como cenário a Igreja de Matozinhos e a casa dos Ottoni. Feita também por Albert Schirmer, com pequenas alterações, abre a possibilidade do alemão fazer um rascunho e, em outra tela, realizar a pintura colorida. As cores e técnicas se mantêm fiéis ao estilo do artista.
SCHIRMER, Albert: Nossa Senhora da Conceição de Filadélfia, 1860. Obra desaparecida
A pintura em destaque, datada de 1860, é o primeiro registro pictórico da cidade de Teófilo Otoni. Na parte inferior da tela o artista representou a estrada Santa Clara, ponto de chegada da então Nossa Senhora da Conceição de Filadélfia. Ao longo da tela, Schirmer procurou distribuir elementos que compunham a referida região, como a geografia do lugar, os índios em sua rotina de caça, as primeiras habitações, a agricultura e a pecuária, a religiosidade do povo (representada em uma capela, que no futuro se tornaria a Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição). Sobre as cores e técnicas de pintura, Albert Schirmer se manteve fiel à sua conduta artística presente nas telas anteriormente apresentadas.
SCHIRMER, Albert. mapa Núcleo Colonial do Ribeirão de São Paulo, município de Carlos Chagas, sem data. Acervo Arquivo Público Mineiro
O mapa acima, produzido por Schirmer no final do século XIX, traz como destaque a demarcação das terras do Núcleo colonial do Ribeirão de São Paulo, localizado onde hoje é o município de Carlos Chagas. No canto, à direita da tela, o artista faz referência à estação Francisco Sá, ponto de parada da Ferrovia Bahia e Minas, erguido em 1896.
SCHIRMER, Albert. Litoral de Saint Thomas. Caribe, 1879.Acervo Particular
Em 1879, entre os meses de fevereiro e agosto, Albert Schirmer foi contratado por produtores do Alto Jequitinhonha para ir aos Estados Unidos comprar um maquinário para beneficiar algodão. O alemão era poliglota, condição rara em um país igual ao Brasil, onde a maioria da população no século XIX era analfabeta. Dessa viagem, feita através de navio, Schirmer registrou diariamente em um pequeno caderno fatos corriqueiros, pensamentos e opiniões. No seu retorno para o Brasil, de passagem pelo Caribe, fez esse desenho, do litoral de Saint Thomas. Tal representação imprime a situação geográfica do local e a atmosfera marinha da paisagem observada pelo artista.